Enquanto famílias brasileiras compram peru, chester e toneladas de batata para a ceia de Natal e Réveillon, um resíduo silencioso se multiplica nas cozinhas do país: o óleo vegetal usado.
Rabanada, bolinho de bacalhau ou batata podem gerar até 1 litro de óleo residual apenas nas festas de fim de ano. Some isso aos 210 milhões de brasileiros e o resultado é assustador: milhões de litros de óleo que, se descartados no ralo, têm poder de contaminar alguns trilhões de litros de água, volume equivalente a 80 milhões de piscinas olímpicas:
“Vivemos um período em que as chuvas são intensas, o volume de pessoas em casa, comemoração em restaurantes e encomendas de alimentos prontos forçam a cadeia produtiva fazendo do óleo de cozinha, além de essencial, um grande problema”, comenta Vitor Dalcin, diretor da Ambiental Santos, pioneira em reciclagem de óleo vegetal no Paraná e em Santa Catarina.
Do outro lado do mundo, uma cidadezinha de Illinois mostra como a união da sociedade pode fazer a diferença na sustentabilidade. Durante as comemorações do Thanksgiving Day, a prefeitura de Westmont organizou a tradicional “Coleta Pós-Ação de Graças” de óleo de cozinha usado. Em apenas três horas, centenas de moradores levaram garrafas PET cheias do óleo de fritura do peru. Todo o material foi transformado em biodiesel pela empresa local Mahoney Environmental:
“É simples: o que ia entupir nossos esgotos vira combustível renovável”, resumiu o prefeito da cidade, Ron Gunter.
No Brasil, a história é bem diferente. Segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), menos de 10 % do óleo de cozinha usado é reciclado. O restante vai para a pia, para o vaso sanitário ou para o lixo comum, causando entupimento de redes, morte de peixes e aumento de custos de tratamento de água e esgoto:
“Se cada família brasileira que faz ceia trouxesse o óleo usado para um ponto de coleta, poderíamos gerar combustível renovável suficiente para rodar 20 milhões de quilômetros de ônibus urbano, sem emitir uma gota de CO₂ fóssil”, calcula Dalcin.