Óleo vegetal movimenta biocombustível, mas reciclagem pode aumentar os números

A soja e seus derivados, tão importantes nas cozinhas brasileiras, estão cada vez mais presentes nos tanques de combustíveis. Pelo menos é isso que aponta o relatório PIB, Emprego e Comércio Exterior na Cadeia da Soja e do Biodiesel divulgado pela Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP com a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).

Neste levantamento ficou clara a importância da cadeia produtiva da soja no biodiesel que movimentou R$ 673,7 bilhões em 2022, 27% de todo o PIB do agronegócio nacional. O avanço é notório principalmente no comparativo com 2010, quando a participação era de 9% do PIB:

“É por esse motivo que a reciclagem de óleo vegetal é importante. A alemã União para a Promoção de Plantas Oleaginosas e Proteicas (UFOP) levantou que 7% de 1,4 bilhão de hectares de grãos oleaginosas e outras fontes de óleo vegetal foram destinadas para a produção de biocombustíveis em 2020, principalmente nas localidades onde há um excedente de matéria-prima e obrigações de mistura legalmente prescritas. Se ao invés de utilizar matéria-prima nova a indústria aderir ao óleo usado, muitos problemas seriam evitados” explica Vitor Dalcin, diretor da Ambiental Santos.

Para o especialista, substituir o uso desse excedente de produção de biocombustível por óleo usado e reciclado ajudaria tanto na produção para o consumo humano na alimentação quanto para o meio-ambiente.

“A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já realizou este estudo mostrando que a adição de 10% de biodiesel ao diesel evita 4,8% de emissões do setor de transportes. A adoção do biodiesel diminui o risco de câncer, de mortes prematuras, de poluição e ataques de asma na população. Além de evitar que o óleo novo seja desperdiçado, a reciclagem retira do meio ambiente material altamente contaminante”.

Sem reciclagem, o mercado de combustível pode elevar preço de produtos novos
Países da Europa se juntam a Brasil, Estados Unidos e Indonésia como os maiores responsáveis pelo aumento no consumo de biodiesel, diesel renovável e demais variantes mais ecológicos, mas esta procura pode causar cenários de desabastecimentos a médio prazo.

Vitor lembra que tanto a soja quanto outras sementes oleaginosas passaram a ser parte integral da produção de biocombustíveis, aumentando da demanda destinada para esta produção. Na Indonésia e na Malásia, por exemplo, o mercado de óleo de palma, a principal fonte de óleo da região, já está começando a ser afetada:

“ Em alguns anos, a produção não vai conseguir acompanhar a demanda justamente pelo biocombustível, estes dois países são responsáveis por 85% da produção global, as condições de plantio, como novas plantas e áreas de cultivo, podem não ser suficientes se o biocombustível seguir consumindo este óleo”.

Empregos podem ser gerados
Vitor lembra ainda que a cadeia da soja e do biodiesel contribui para a geração de empregos. O setor foi responsável por 10,8% dos empregos gerados no agronegócio brasileiro nos últimos anos.

Somente em 2022 foram 2,05 milhões de vagas ocupadas direta e indiretamente pelo setor, um crescimento de 80% em uma década quando as vagas giravam em torno de 1,14 milhão.

Vitor lembra que o crescimento pode ser ainda maior se a reciclagem de óleo entrar na pauta das grandes empresas do setor. A reciclagem ajuda a retirar óleo contaminante do meio ambiente enquanto evita que óleo vegetal novo seja gasto:

“A matéria-prima está disponível diariamente, são diversos geradores de óleo que podem contribuir para a composição do biocombustível. A cadeia da reciclagem também gera empregos e retira de circulação material que causa prejuízo ao entrar em contato com o meio ambiente” completa Dalcin.

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